quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A MENTIRA



Mentira é a afirmação de algo que se sabe ou suspeita ser falso; não contar a verdade ou negar o conhecimento sobre alguma coisa que é verdadeira. A mentira é o ato de mentir, enganar, iludir ou ludibriar. No entanto, a mentira em excesso ou de forma compulsiva pode ser sinal de um transtorno psicológico chamado Mitomania.
No âmbito religioso, a mentira é considerada um pecado divino, estando relacionada com o que é mau, maligno ou indigno. Na doutrina cristã, por exemplo, a mentira é representada pela figura do diabo, considerado o "pai das mentiras", para os cristãos.
Conta-se que um pai tinha um filho adolescente que mentia muito. Em tudo o filho mentia. Então, o pai procurou o médico psiquiatra e disse que foi pedir ajuda porque seu filho, desde que acorda até a hora que dorme, vive mentindo. O pai perguntou o que deveria fazer para acabar com a mentira do seu filho, pois isso o incomodava, fazia-lhe mal. E o médico psiquiatra disse que daria uma receita que acabaria com a mentira do filho. Pediu para o pai pensar numa história, numa mentira, na maior mentira que pudesse contar ao filho. Porque, quando ele ouvisse aquela mentira, se chocaria e pararia de contar mentiras.
O pai concordou com o psiquiatra e chamou o filho: - Vem aqui Joãozinho. Eu quero lhe contar uma história que se passou comigo. – Veja que o pai estava sendo indicado pelo médico para agir assim.  -Meu filho, papai estava jogando golfe e de repente, sai do meio do mato um cachorrinho poodle marrom. Ele veio e tentou me morder. E eu bati nele com o taco do golfe, ele correu para dentro do mato. Naquele instante vinha saindo um gorila de uns quinhentos quilos. Aquele poodle partiu para o pescoço do gorila. Deu-lhe uma mordida; lançou-o no ar; lançou o gorila para dentro de um lago; correu lá deu-lhe mais umas mordidas; arrancou-lhe os olhos; abriu-lhe o estômago; afundou o gorila que morreu. Meu filho, você acredita nesta história? -  E o filho disse que acreditava sim. E o pai perguntou por quê? E o filho disse que aquele cachorro era o seu cachorro. Ele já tinha contado tantas histórias mentirosas do cachorro!

Quando mentimos, ferimos a nós mesmos. A Bíblia diz em Efésios 4:25 “Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo, pois somos membros uns dos outros”.
O novo mandamento proíbe a mentira. A Bíblia diz em Êxodo 20:16 “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”.

           Quando mentimos não estamos seguindo o exemplo de Jesus. A Bíblia diz em Colossenses 3:9-10 “Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do homem velho com os seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”.  A mentira é como se fosse uma roupa para cobrir a nudez. A recomendação bíblica é o desnudamento e o revestimento da verdade.

           Deus detesta a mentira. A Bíblia diz em Provérbios 12:22 “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor; mas os que praticam a verdade são o seu deleite”. 

           Os que mentem são excluídos da presença de Deus. A Bíblia diz em Salmos 101:7 “O que usa de fraude não habitará em minha casa; o que profere mentiras não estará firme perante os meus olhos”.

           Os que são desonestos estão incorrendo em seríssimo problema no futuro, não serão permitidos entrar na cidade de Deus. A Bíblia diz em Apocalipse 22:15 “Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os adúlteros, os homicidas, os idólatras, e todo o que ama e pratica a mentira”. 

          Somos considerados mentirosos se dizemos que somos cristãos, mas não obedecemos a Deus. A Bíblia diz em 1 João 2:4 “Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade”.

          A solução para o problema da prática da mentira é confessar seu pecado a Deus e a seu próximo, como está escrito em 1 João 1:9 “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.
Agora preste atenção: Em 1 João 2:4 diz: “Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade”. Então, quando no Antigo Testamento uma pessoa adulterava, jogavam-lhes pedras até a morte. Lembremos da mulher que foi apanhada em adultério, e foi levada a presença de Jesus para todos atirarem pedras? Hoje em dia essa mesma prática existe quando atiram pedras no pecado das pessoas, onde elas mesmas estão envolvidas com as mesmas práticas pecaminosas. Isto é uma forma muito comum no meio cristão de se camuflar. Utilizar de rigor verdadeiro para punir pecados alheios como luz para acobertar o próprio erro é um pecado grotesco maior ainda. Uso da verdade para encobrir o mesmo problema. Ou seja: acende-se a própria “luz” apagando a dos outros, mesmo que seja até verdadeiro o problema alheio. Ocultar o nosso problema tornando público o erro dos outros, mesmo que seja verdadeiro, é uma fraude e afirmação que o pai desse tal é o diabo.

Que Deus nos ajude.


Romildo Gurgel 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

PRÁTICA DA LIDERANÇA PASTORAL COMO VOCAÇÃO MINISTERIAL NA IGREJA

Por
Romildo Gurgel

Muitas organizações e Igrejas que existem por intermédio de serviços voluntários, requerem um bom exercício de sua liderança e práticas administrativas, exigindo gente competente e com certas qualificações bem como algumas experiências na função ocupada.  A minha intenção neste texto é de equilibrar o líder, como instrumento no cumprimento da missio Dei e cooperar de uma certa forma no aspecto conjuntural, enfatizando estes dois lados, sabendo que no exercício pastoral não há como separá-los.
Percebo que a missão da Igreja embarca dois lados, é tráfego de mão dupla, tem como base o vinde e o ide, é tanto interna, percebida como ambiente de reunião e preparação dos santos, como externa, mundo onde as pessoas são escravizadas pelo sistema corrupto pecaminoso. A missão interna é conectiva, agregadora e socializadora do reino, comunhão e o tudo em comum. A missão externa, é proclamação somada à ação de contextualizar a mensagem frente as realidades espirituais e sociais além de suas fronteiras, “se existir”. O apóstolo Paulo nos ajuda muito a entender essa parte escondida, como sendo uma forma intencional de empoderar os santos para a obra do ministério, conforme ele escreveu a igreja de Éfeso:
  (Efésios 4:11-13) – “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.

Percebe-se que neste texto, que os ministérios possuem essas duas pautas, uma interna e outra externa: a) Interna - ‘pastores e mestres’. b)  externa ‘apóstolos, evangelistas e profetas’.

 É aqui do lado da pastoral eclesiocêntrica que acontece o diálogo da igreja consigo mesma, frente as realidades do contraste da vida comunitária que estão em volta dela. Como disse (Berkhof, citado por Devid Bosch, p.463): 

A pessoa do pastor como líder comunitário e na sua prática pastoral, precisa de um certo preparo ao trafegar entre estes dois lados da igreja como organismo/organização. Claro que por mais preparado que seja, o líder deve ser humilde o suficiente para que suas qualificações não atrapalhem a obra de Deus e Sua missão. Todo preparo para a vida e o ministério agrega valores e que estes poderão ser utilizados em todos os aspectos. Muitos líderes descritos na Bíblia não possuíam currículo que apontasse suas capacitações, mas que no exercício da função foram capacitados por Deus como o exemplo de Moisés, Jeremias e outros (Lane p.25). O elemento principal, neste ponto, é a presença capacitadora de Deus, conforme (Mateus 25:15b) – “A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada um segundo a sua própria capacidade...”. Interessante esta passagem porque nenhum era igual ao outro e também não tinham habilidades e oportunidades iguais.
            Como todo ministério visa acobertar algum problema ou deficiência na comunidade de uma forma geral, concordo com o pensamento de (Lane p.26) ao comentar sobre esse assunto:
“Numa comunidade é comum as pessoas sugerirem ao pastor ou a liderança o que a igreja podia ou deveria fazer. De certo modo, é uma cobrança para que a liderança atenda uma necessidade ou outra. Quando um membro da igreja vê uma área da igreja que está deficiente e que algo tinha de ser feito, costumo dizer que se esse membro teve a sensibilidade e viu a necessidade, provavelmente, é um sinal de que Deus mesmo está chamando aquele irmão ou irmã para aquela tarefa”.

            A grande questão neste ponto não se trata de sobrecarregar em mais uma atividade a pessoa do pastor, visto que ele está ocupado além da conta em seu ministério, mas quando aparece necessidades percebidas pela comunidade, ele poderá acatar proporcionando aberturas para que novos talentos sejam alocados de acordo com a visão da necessidade imediata que precisa ser suprida. O líder neste aspecto, deve fazer com que novos talentos sejam agregados na construção de novo seguimento ministerial, facilitando para que a saúde da comunidade venha ser a alegria comum de todos. Deste modo, ele deverá incentivar a sensibilidade da visão percebida, facilitando para que se transforme em uma nova frente ministerial e o problema venha ser resolvido.
A escritura sagrada relata um exemplo típico deste caso de visão de necessidade como aconteceu logo no início quando a igreja primitiva estava se organizando, conforme (Atos 6:1) que diz que ao “... multiplicar-se o número de discípulos, houve uma murmuração dos helenistas (judeus de fala grega) contra os hebreus (judeus da palestina que fala aramaico), porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária”. (Destaque meu).
O curioso neste texto é o fato da sensibilidade da distribuição não ter partido de quem as recebia, mas daqueles que estavam sofrendo de um suposto esquecimento de quem as não recebia. Sendo assim, o zelo missionário partiu dos crentes helenistas, grupo  menos tradicional e desembaraçado do problema da língua, visto que o grego era língua fraca do império Romano (Shedd p.148) No entanto, não foi desprezada a murmuração, para acobertar esta tarefa, os apóstolos convocaram a comunidade de discípulos para que fossem escolhidos do meio deles sete homens com o destaque de três qualificações: homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, enquanto os apóstolos permaneceriam se consagrando à oração e ao ministério da palavra (Atos 6:3-4).  
Um outro texto bastante interessante é a descrita pelo apóstolo Paulo a igreja de Filipos, quando ele envia Timóteo àquela localidade, que aparentemente se percebe que o motivo dele ser o escolhido, consistia do compromisso que havia demonstrado ao cuidar das pessoas na comunidade que fazia parte. Paulo revela as qualidades de Timóteo como sendo apropriadas para a Igreja, visto que este tipo de sensibilidade em alguém era difícil de ser encontrado. (cf. Fp.2:20,29-30).
O amor a Deus e o chamado marcam a trajetória do exercício vocacional do líder. A sua sensibilidade aos problemas constrange-o e o leva a fazer algo que venha trazer a solução.  Como diz (Lane p.21),  
“É a partir de uma sensibilidade e visão que o indivíduo mantém seu foco e conduz outros a alcançarem os mesmos propósitos e que essa é a característica importante do exercício da liderança”. 

O chamado de Deus é o que marca a vida do líder que de uma forma ampla se lança ao desafio através daquilo que percebe nas pessoas que precisam ser ajudadas, bem como do modus operandi na organização ao lidar com suas dificuldades. Ministérios e dons existem porque existem dificuldades e problemas.  Podemos afirmar que o ministério é proporcional ao grau e intensidade dos problemas que assolam, investem e agridem as pessoas em suas comunidades.
Alguns líderes verdadeiramente são dotados de talentos e já outros ocupam cargos pelo fato de alguns deles estarem em aberto para quem queira ocupar. Muitas vezes o prejuízo é irreparável, pois o dom e a experiência contam e muito para o bom andamento ministerial. Diante disso, as dores e as consequências por falta de gente talentosa, tem feito com que muitos serviços existam só pelo fato de existir, não agregando valor transformacional alguma na comunidade. Um pouco de um olhar minucioso na comunidade, se pode descobrir que o potencial da igreja está ali e precisa ser despertado e desafiado.
 A saúde das ações ministeriais é importante para que corra em seu fluxo livremente sem impedimento. Em muitos casos, como por exemplo, um líder mau humorado é evitado, ou no mínimo suporta-se em amor. Deve-se evitar excesso de manuais e normas, muito embora seja inevitável. O que vale aqui é o uso excessivo desses manuais, porque isso criaria o vício de muita justificativa e pouca ação, e de uma certa forma tolhe o espírito criativo dos colaboradores e engessa ações como normas.
Para compreender a motivação dos liderados, é preciso se colocar sob seu ponto de vista (empatia), mesmo que haja discordância em alguns casos, sabendo que se são ensináveis agregará valor no foco de toda equipe e propósito comunitário. O pastor deve conhecer os seus líderes e a sua comunidade, precisa saber quais são suas necessidades, prioridades, desejos e até caprichos. Uma forma de motivar os subordinados é ter alta expectativa em relação a eles e trata-los como parte importante de uma equipe montada com finalidades transformacionais que seja comum a todos.
Uma pequena porcentagem desses voluntários realmente é o que faz todo trabalho, por isso que precisa estar bem motivada, lembrando que não é um ato isolado, mas um processo que requer esforços continuados.  
Em muitas igrejas, cerca de vinte por cento das pessoas, ou até menos que isso, fazem oitenta por cento de todo labor. Diante de um número tão pequeno, sufoca o ministério pastoral com muitas outras tarefas cujo resultado final cai na qualidade o serviço, ou alguma coisa vai ficar a desejar.
O analista de liderança da Igreja Alan Hirsch citado por (Lane p.74) sugere que o declínio da Igreja evangélica contemporânea se deva ao fato de se reduzir sua liderança a duas funções, a do mestre e a do pastor. O resultado é esse que vemos em muitas comunidades, a pessoa do pastor com suas agendas superlotadas de tarefas, onde muitas destas atividades poderiam ser distribuídas por pessoas comprometidas de acordo com os dons ministeriais que Deus distribui no seio da sua Igreja. Sendo assim, a falta desses outros ministérios faz com que a pessoa do pastor se transforme em um clinico geral, obrigando-o incorporar em seu ministério uma série de outras atividades que de uma certa forma fragiliza o ministério pastoral.  Essa ideia de pastor clinico geral, pode até soar bonito e apontar para um certo dinamismo para quem ocupa o cargo, mas esse comportamento de clinico geral na verdade é ante bíblica, podendo até está em alta este tipo de prática ministerial em muitas comunidades, mas estagna sufocando o ministério pastoral causando danos.
 A escrituras sagrada soluciona o problema dizendo:
“...ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres...” (Efésios 4:11).  

Concordo com o que diz (Lane p.75) que se olharmos para a liderança na perspectiva funcional destes ministérios, pode-se afirmar, que acontecerá um certo equilíbrio e consequentemente não haverá sobrecarga na função do pastor. Descreve ele ainda a distribuição dessas atividades conforme se segue:
·         Apostolo é o empreendedor, o inovador e arquiteto cultural. Ele cria novos produtos ou serviços e desenvolve a organização.
·         Profeta é o contestador, aquele que reflete e promove questionamento e avaliação dos programas da igreja.
·         Evangelista é o comunicador, aquele que recruta pessoas para divulgar o ministério da igreja e conquistar adeptos.
·         Pastor é o cultivador das relações humanas. Ele motiva as pessoas e promove um ambiente de relacionamentos saudáveis.
·         Mestre é o pensador e filósofo da organização. Ele articula claramente a ideologia da organização.

Admiro a criatividade do apóstolo Paulo que com rara beleza ele esmiúça ainda mais essa verdade pela forma que escreveu a Igreja de Corinto, igreja essa que precisava e muito de organização:
 “Ora, vós sois corpo de Cristo; e individualmente, membros desse corpo. A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? Ou todos profetas? São todos mestres? Ou operadores de milagres? ” (1Co.12:27-29) .

Claro que não poderemos limitar a capacitação que Deus concede aos seus oficiais. Aqui não se trata disso, sobre a quantidade de dons que cada um possa receber. Ao meu ver o que se destaca aqui é a organização como equipe, e o alivio de que não haja a sobrecarga em nenhum ministério. Aqui se explica o desgastes físico-emocional e até mesmo espiritual de muitos líderes. Sobrecarga, distribuição de tarefas, despertar talentos, administração do tempo, parece ser assuntos recorrentes e bastante atuais.
Comentando sobre esse assunto, (Lane p.77) diz que frequentemente hoje se entende os ministérios na igreja como se fosse uma hierarquia, enquanto na igreja primitiva tratava-se de uma distribuição de função cada uma com as suas características.  Sendo assim, a Igreja é o resultado do somatório de todas as suas ações ministeriais, cada ministério com a sua função visando o bem da manutenção e o aumento do corpo. De tudo que se pode fazer em termos de mudanças acontece aqui, na fonte de quem decide e faz acontecer. Penso que para solucionar os problemas e maximizar a performance das ações da Igreja e da comunidade, deve-se observar criteriosamente a função do pastor na comunidade. De antemão é bom destacar que a igreja neotestamentária é cristocêntrica, cuja firmeza se encontra nas escrituras sagradas e conta com a ação direta do Espírito Santo agindo e movimentando o povo de Deus em todas as suas ações.
Se faz necessário também perceber que a igreja não tem missão isolada, própria, ela abraça uma missão, a missão de Deus “missio Dei”. Sendo assim, a sua tarefa é transformar o ser humano para que ele adquira a sua dignidade que foi perdida com a queda no pecado (Kohl & Barro, p.105).
Dentro de muitas atribuições do pastor como líder, duas delas parecem cruciais para a função do pastor como ministério. Como traduz (Kohl & Barro, p.107 citando Lewis Chaney) ao dizer que o papel do pastor é o de capacitar ou equipar e não somente ser um pregador semanal.
 A verdade é que o discipulado é uma das tarefas mais difíceis dentre muitas outras atividades pastorais, talvez seja pelo fato de tal tarefa consumir muito tempo e energia do pastor. É justamente esse ministério que mais contribui não só para o crescimento da Igreja, como para uma melhor compreensão quanto ao papel do crente na sociedade.
Uma outra questão apontada por Kohl & Barro, é a falta da instabilidade econômica que assola o país, e por consequência também as nossas igrejas, levando muitos pastores a dividirem o tempo com outras atividades. Apesar de algumas delas sentirem-se confortáveis, isto não significa que cobrem de seus pastores resultados semelhantes às de um com tempo integral.
O maior ativo de uma Igreja é a pessoa do pastor, é a pessoa chave para o crescimento, principalmente quando ele é sensível ao Espírito Santo, considera as escrituras como autoridade suprema e que ora pela igreja ardentemente na prioridade de como capacitar e se desenvolver.
Um outro ponto que se deve considerar, é que o pastor é um inspirador de vidas ao empenhar-se na missio Dei.  De uma forma geral os membros da igreja, principalmente os neófitos, não possuem uma visão global da revelação divina e não compreendem o porquê foram salvos. Diante disso, o pastor funciona como um estimulador do rebanho sabendo que ele só estimula por aquilo que ele mesmo foi estimulado. Boa parte dos pastores é treinada para a manutenção da Igreja e como consequência disso, gasta muito tempo dando satisfação a denominação através de muitas reuniões. Diante desse impasse, destaco aqui que o crescimento da Igreja deveria encontrar o seu percurso na mobilização dos convertidos para a transformação da sociedade, muito embora considero também que toda organização interna da Igreja deve focar-se para que os seus resultados funcionem como uma luz no bairro, cidade e mundo, interagindo com a sociedade.
Considero de suma importância o que (Kohl & Barro p.115) traduz como solução estimulando o pastor a pesquisar a sua comunidade e de uma certa formar procurar entender a teologia do contexto. Com esse conhecimento, o pastor conhecerá o povo a quem vai ministrar. No entanto, ele deverá procurar a resposta para essas perguntas: Qual é o contexto da Igreja? Qual a situação do bairro? Como ele é composto socialmente? Quais são os principais problemas do bairro ou da cidade? Somado a isto, penso também, que para ajudar a solucionar a questão de conjuntura da igreja, é preciso que todas as áreas de ação da Igreja, de uma forma criteriosa, sejam revistas e reavaliadas, bem como a sua estrutura funcional, dons e ministérios.
Acredito que um planejamento estratégico como ferramenta de fomentação e transformação desse quadro organizacional, facilitará ajudando o pastor a descobrir o potencial comunitário não utilizado, bem como trará percepções de pontos positivos (fortes da comunidade) e negativos (fracos), levando a conhecer ainda as ameaças internas e externas, bem como as oportunidades que poderão se transformar em objetivos que servirão de desafios para despertar o potencial de pessoas que não foram descobertas ou oportunizadas.
Minha intenção nesse texto é apontar caminhos que de alguma forma possa elucidar ao pastor a ter alguns procedimentos que possam ser tomados para que haja uma mudança estrutural organizacional e de alguma forma associá-los ao uso dos dons ministeriais, e ao mesmo tempo ser caçador de talentos na sua comunidade para que venham acobertar os problemas que ali surgem.  Vejamos:
1 – Muito do potencial da Igreja e das organizações está ali sentado e ainda não foi descoberto.
2 – Muitos têm medo de assumir responsabilidades por falta de experiência e capacitação.
3 – Uma boa quantidade sofre por experiências doloridas do passado e é brecada pelo seu emocional achando que irá repetir-se os mesmos problemas traumáticos.
4 – Algumas são intimidadas por pessoas mais capacitadas.
5 – Por falta de treinamento e desconhecimento bíblico, não percebem ainda qual a sua função e sua utilidade na organização. Muitos passam anos a fio sem utilidade alguma.
6 – Outros estão ali só para receber a bênção e estão mais focados em sua atividade secular.
7 – Outras se sentem despreparadas, mal equipadas e desprovidas de qualquer dom.
8 – Um bom número não tem consciência das opções de trabalho que lhe está disponível e seu foco sensitivo encontra o seu conforto no seu ambiente secular de trabalho.
9 – Várias outras são egoístas, preguiçosas e indiferentes. Algumas não vão se envolver porque não se ocupam com nada mais além de si mesmas.
O que é que poderá ser feito para que essas organizações mudem esse quadro? Tenho convicção dentro de mim que o que está alistado abaixo fará toda diferença se for executado.
1 – Deve-se fazer uma reunião com a liderança da igreja para se descobrir os pontos fortes e fracos, as oportunidades e o potencial da organização junto as pessoas.
2 – Agendar entrevistas com os membros para expor as oportunidades. Você poderá conseguir modelos de entrevistas em livros de Recursos Humanos, ou pela internet. Um bom critério para o recrutamento pode ser baseado no (Salmo 15:1-5).
3 – Visionar toda organização quanto a missão de Deus “missio Dei” e definir valores.
4 – Associar os talentos e os dons como oportunidades de trabalho. Seguindo sempre esse raciocínio: PROBLEMAS + DIFICULDADES = MINISTÉRIO. Sabendo que Deus escolhe e separa gente talentosa para assumir cargos e funções no seu corpo. (cf. Efésios 4:11-14)
5 – Fazer funcionar um meio com que o novo membro passe por um desenvolvimento na organização (discipulado) até ser alocado em uma função que andem lado a lado eficácia e eficiência ministerial. Para isso é necessário criar vários níveis de responsabilidades que possa envolvê-lo e levá-lo ao amadurecimento de uma função futura permanente, criando processos que vá acontecendo já na prática com funções básicas. (cf. Êxodo 18:20-22).
6 – Ensinar e expondo a visão do sacerdócio universal dos crentes. Todos têm um dom pelo qual podem participar de alguma atividade no corpo de Cristo. Descobri-lo é chave.  Existe ferramenta apropriada para elucidar este descobrimento. (cf. 1Pedro 2:5-9;  Mateus 25:15; Romanos 12:6; 1Coríntios 12:4).
7 – Desenvolver séries de compromissos realistas para que as pessoas possam dividir essas responsabilidades. Divisão de tarefas e equipes focadas em ministérios é uma boa ideia. (cf.1Crônicas 18:14-17; Lucas 9:1-10)
8 – Promover o rodízio entre a liderança, sempre dentro do possível, para criar um espaço inovador e criativo para novas pessoas.
9 – Elogiar as equipes e os ministérios. Se capacitem juntos, bem como tenham também sempre um período de lazer e descontração com todos que fazem a comunidade funcionar. Jesus tinha uma equipe (cf. Marcos 1:16-20; Lucas 5:1-11; João 1:35-42).
10 – Promover as pessoas de acordo com o seus dom e talento, e nunca por outro motivo. Prepare e empodere essas pessoas através de treinamento e o forjamento de um caráter integro e Deus abençoará pode ter certeza.

Romildo Gurgel
FONTE:
1 – Apostila do curso Teologia Bíblica da Liderança – William Lacy Lane – p.21,25,26,74
2 –  Texto do curso Teologia Bíblica da Liderança  - O Papel do Pastor na Transformação da Sociedade – Manfred W. Kohl  & Antônio Carlos Barro, p.105,107-112
3 – Texto do curso Teologia Bíblica da Liderança – O Papel do Pasto na Transformação da Sociedade –Manfred W. Kohl & Antônio Carlos Barro, p.115
4 - Bosh J. David. Missão Transformadora. Editora Sinodal. São Leopoldo/RS. 1998.p.463.
5 – Bíblia Liderança Cristã com notas de John C. Maxwell – SBB, pp.961
Extraído e estratificado com diversos acréscimos e modificações.
6 – Recursos humanos Princípios e Tendências. Francisco Lacombe. Editora Saraiva, pp.143.
7 – Bíblia Vida Nova – Comentário do Dr. Russell P.Shedd, p.148 - Editora Vida
8 – Chave Bíblica – SBB
9 – Bíblia NVI – Editora Vida
10 – Concordância Bíblia – SBB.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

CONTEXTUALIZAÇÃO DO EVANGELHO E CULTURA

Por
Romildo Gurgel


O mandato imperativo de Jesus a sua Igreja, trata-se de um mandato cultural. Não há como se pensar em propagação do evangelho desconsiderando o contexto sócio cultural, político e econômico onde as pessoas construíram essa cultura. A propagação do evangelho na singularidade da missão da Igreja, deve rever em si, a missio dei, que é a intenção de Deus de estabelecer a comunhão com a humanidade uma vez perdida e restaurá-la ao estado de sua originalidade. Tratar da proclamação do evangelho mantendo o foco unicamente em salvação de almas, é ferir gravemente a intenção de Deus no seu propósito original antes da queda.
Com essa reflexão, a minha intenção consistirá em descrever alguns desafios extraídos de realidades atuais, frente ao que resultou da proclamação do evangelho em nossa cultura. Estarei mantendo esse foco não de uma forma ampla, mas descortinando a questão daquilo que deveria ser e ao mesmo tempo desafiando a uma contextualização mais sadia.  
Dentro da intenção original de Deus antes da queda, (Souza p.57) comenta que no livro de Gênesis, Deus incentiva o homem a produzir cultura na forma de permitir que ele institua atos, nomeie nomes, exerça tarefas, classifique e divida o tempo, invente modos de exercer domínio, etc. Dessa forma, uma cultura ou um comportamento instituído como: Santa ceia, batismo, ritos, liturgias, testemunho da fé, teologia, circuncisão, etc., podem ser inspirados por Deus, porém o modo e os meios de realização serão sempre uma decisão humana culturalmente influenciada, podendo diferenciar em diferentes locais.
A revelação bíblica como um bem a ser comunicado, acondiciona um mandato cultural sob diversos sentidos:
Não existe revelação sem mediação cultural – A medida que a revelação deixa de ser sentimento e torna-se linguagem simbólica, ela só assumirá identidade no mundo humano senão por meio dos recursos disponíveis no universo cultural na felicidade de ser compreendida, percebida para poder ser sentida. A crença só será veiculada por intermédio da cultura, intercâmbio dos fluxos. O Verbo, que era Deus, para revelar-se aos homens fez-se carne e manifestou-se culturalmente, trazendo o conhecimento da glória de Deus.  Podemos afirmar que a atitude de Jesus se integrava a cultura judaica e por algumas vezes Ele se colocava contra ela. Todas as vezes que ele percebia que se alguma prática cultural o privava ao acesso às pessoas, ele se permitia romper com os padrões culturais vigentes para a comunicação do seu Evangelho. Em outros casos, as práticas culturais que não passavam de atividades do cotidiano, e que não feriam o valor do evangelho, Jesus se adaptava sem nenhum problema. (Apostila p.73)
Pensando sobre o testemunho cristão, podemos levar em consideração que ele é tanto comunicação como expressão. Não haverá contato com o mundo sem um sistema simbólico inteligível que permita a circulação da informação, pois essas informações precisam ser percebidas linguisticamente e comportalmentemente. Ela tem que assumir uma língua, um gesto, ela assume a ética e a moral e nomeia regras.
A instituição de uma igreja, socialmente organizada, por mais simples que seja, é inquestionavelmente um processo de aculturação.  A Igreja ao instalar-se entre as cidades e nações não faz missão sem interagir com os padrões culturais existentes ali, ela ao mesmo tempo assimila, nega, transforma e assume tais padrões. A presença da Igreja no contexto cultural só acontece em processos de adaptação da revelação das escrituras ao mundo da cultura.
 Por outro lado, a fé cristã não pode encerrar-se em um gueto fechado, privado, como resultado final sem nada a dizer para o contexto do mundo. Pensar no cumprimento do mandato imperativo de Jesus, trata-se em afirmar o intercâmbio de três culturas: O das escrituras sagradas, a ideia central do editor, a do portador da mensagem e a daquele que recebe mensagem. Como David Hesselgrave descreve em seus estudos, afirmando que na proclamação do evangelho, estas três culturas se interceptam. Quanto ao conteúdo da mensagem, o importante consiste na fidelização do texto do editor, independentemente da linha teológica do proclamador. O fundamental é o que o texto na sua originalidade venha ser anunciado como realmente ele é e diz, sem que sofra alteração ao interpretá-lo para a cultura receptora. Como o fim da mensagem tem a tendência de afunilar-se na intenção da salvação de almas e subsequentemente a formação da comunidade eclesial, instituir regras e atos, nomear funções para exercícios de tarefas, classificar a divisão de tempo e uma certa forma de exercício de domínio, pode ajudar ou também inibir aquilo que o texto bíblico realmente quer dizer. Isto deveria acontecer de uma forma mais ampla e não unicamente só no âmbito institucional, denominacional.   Uma frase tecida por Leonardo Boff encaixa-se bem ao descrever o resultado da intenção do mensageiro, mensagem e receptor. Ele diz:
“O cano da água não é água e o que ilumina é a chama não a vela acesa” (BOOF, p.39).
              Com essas palavras, Boff está afirmando que Jesus não anunciou uma Igreja, ele anunciou o Reino de Deus e a transformação interior (conversão). Claro que a mensagem se confunde muito bem com aquele que a proclama e pelo seu resultado final. Porém, vale salientar que o proclamador é apenas o condutor da mensagem das verdades bíblicas, assim como a do cano é a de conduzir a água e a vela a chama acessa, muito embora seja inevitável este mescla-se do editor das escrituras com alguns traços inerentes na cultura do proclamado, que ainda por sua vez, trabalhará na contextualização da cultura receptora. Posteriormente, no seu lugar, surgiu a Igreja como comunidade de fieis que crê em Jesus e que expressa sua relação com Deus nesta nova cultura evangelizada.
Pensando nos resultados da proclamação, as comunidades de fé em Jesus Cristo deveriam em primeira mão, se preocupar em interpretar a mensagem bíblica ao invés de transmitir o evangelho aculturado da sua cultura.  Neste caso a cultura junto com certas tradições podem impedir o livre fluxo do evangelho ao mundo. Como o exemplo ocorrido no encontro de Pedro com Cornélio no livro de Atos 10:148;11-18 (apostila p.74). Para que Pedro rompesse com a tradição teológica judaica-cristã, Deus precisou interferir através de uma visão, onde o apóstolo deveria matar os animais e comê-los, gesto esse que na cultura judaica-cristã da sua época eram consideradas impuras e imundas. Já na casa de Cornélio, por sua vez, Deus se revelou fornecendo o endereço onde se encontrava o apóstolo para que ele fosse chamado para esclarecer pormenorizadamente acerca do reino de Deus. Cornélio como devoto a Deus, não teve problemas de enviar mensageiros a procura de Pedro, mas para Pedro, romper com a cultura teológica judaica-cristã que estava arraigado precisou ser quebrada, para que ele não resistisse em se hospedar na casa de um gentio. As lições aqui são muitas, mas a intenção de Deus, é que Pedro não deveriam ser impedidos de anunciar o evangelho em cultura que diferenciasse da dele, pois Deus deseja salvar toda a humanidade em diferentes culturas. Enfim, Pedro entendeu a visão. O texto ensina que o proclamador rompeu com as tradições teológicas instaladas em sua cultura com certa relutância, e o que resultou com este rompimento foi o mesmo que aconteceu na comunidade em Jerusalém. Deus derrama o seu Espírito tanto para Judeus como também para os gentios. Diante deste rico exemplo, o que se vê formado em muitas comunidades cristãs, é o demasiado zelo de uma certa tradição teológica, que isola as comunidades cristãs entre si e o mundo, comprometendo assim a missão da igreja de uma forma integral. No entanto, dentro do modus vivendi, cada igreja, deveria expressar aquilo que é comum à sua cultura sem que fira a originalidade da interpretação bíblica e evitar criar novos modelos de teologia que se transforme em uma possível tradição, principalmente aquilo que é bem comum nas relações entre outras igrejas, na sua comunidade já contextualizadas. As vezes se percebe que há um certo respeito, mas não suportamos o estar por perto. A verdade é que, as muitas interpretações bíblicas têm levado as comunidades se isolarem entre si, e criarem seus próprios grupos de forma que ao se multiplicarem levam consigo o seu próprio isolamento como forma de se proteger das outras comunidades eclesiais e também do mundo. Claro que os aspectos teológicos adotados como regra de normatização da fé e da comunidade, é defendida e muito bem defendida, com forte tendência a se manterem fechadas àquilo que poderia ser comum e saudável entre si e em outras comunidades. Isto explica a maneira onde muitas igrejas foram organizadas em nossa cultura, com um pouco de conteúdo de algumas já existentes e com um aspecto diferenciador das que já existem muitas outras são formadas perdendo o foco principal da proclamação, as almas perdidas, mas a criação de uma nova cultura eclesial que diferencie de outra também já instalada. Tal fato faz com que a construção teológica encontre sua pauta criando dogmáticas, que diferencie daquilo que Jesus mandou proclamar. A ênfase principal é na organização ao invés da proclamação de colocar as pessoas dentro da missio dei. Isto é um sério problema que precisa ser resolvido, e o resultado é a verdade bíblica mal interpretada do seu significado original. O que realmente deveria ser levado em conta, seria convergir em Cristo todas as coisas ao invés de haver disputas por almas, substituindo o evangelho pela cultura teológica, só assim estaríamos cumprindo a missão de Deus no mundo.
Sendo assim, o mandato cultural para a comunidade da fé, percebe-se como uma via de mão dupla, compreendida através das palavras de Jesus quando ele comissiona e chama sua igreja com essas palavras:
“Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15a).
“Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei, tomais sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas” (Mateus 11:28-29).
O mandato cultural além de salvar as pessoas onde estão inseridas, envolve a vice-gerência desse homem sobre o cosmos. Era para o homem desenvolver e manter tudo aquilo que é criado por Deus. A igreja é a comunidade que está nesse movimento que vai e vem. O kerigma da igreja incorpora o mandato cultural que Deus entregou a humanidade em um relacionamento singular com a criação, para dominar e sujeitar (cf. Gênesis 1.28), guardar e cultivar (cf Gênesis 2.17) e ir ao mundo e proclamar o evangelho na intenção primeira de colocar a humanidade na intenção original de Deus fazendo com que as culturas de um modo geral, recebam a singularidade da vontade de Deus e sujeite-se em fé a Ele. O grande desafio da atualidade não consiste unicamente na salvação de alma, isto limita a ação de Deus em inúmeras outras áreas. Claro que a salvação é a porta de entrada como início das muitas intenções de Deus. No entanto, precisamos ainda considerar que em outras áreas, onde a forma que as coisas são assumidas dentro da cultura humana, precisam ser colocadas dentro da administração da revelação de Deus, através de homens fiéis a revelação bíblica nesta administração, bem como também a comunidade da fé (cf. Lucas 16:13-15).  O alerta aqui é bem preciso, pois todo povo que Deus chama deve lutar contra a correnteza das riquezas e da multidão que estão indo em sentido contrário.
Reforçando o que venho tecendo, penso que a fé cristã deveria não ser uma fé isolada, visto que o chamado, possui um retorno pela mesma via, sendo que agora como portadora de uma mensagem que deveria ser levada em consideração acima de tudo, ao invés de transportar a cultura da fé a outra cultura nos mesmos moldes. Sendo assim, a fé cristã depois de transformar-se em comunidade, não deveria ter a mesma aparência da cultura do proclamador, mas as dos traços daquilo que é traduzido para ela através das escrituras, incorporando na sua fé cristã.

A QUESTÃO DA PRIVATIZAÇÃO DA FÉ

A ênfase da proclamação do evangelho tem gerado uma ação concreta de salvação de almas. Por isso que temos presenciado um cristianismo alienado da realidade social, política e econômica. A fé deveria não se encerrar no âmbito privado sem nada a dizer para dentro do mundo à sua volta. Essa crença intimista e vertical tem tomado as igrejas que, cada vez mais, se afastam da arena pública nas suas múltiplas expressões culturais, criando uma cultura própria e muitas vezes difícil de ser assumida e interpretada. Isto tem gerado atualmente naquilo que estão chamando hoje, “os sem igrejas”, que não é cabível falar aqui.
É fundamental que, antes de mais nada, o cristão conheça a sua dupla cidadania: Nessas palavras de Jesus em sua oração sacerdotal: “Eles continuam no mundo... Eles não são do mundo...” (cf. João 17:11,16). Nós somos cidadãos dos céus, mas a nossa passagem para lá ainda não chegou, e enquanto estivermos aqui temos muito o que fazer, sem, no entanto, esquecermos que somos de lá. O problema é que além de sermos muito parecidos com o pessoal do lado de cá, muitas vezes nos deixamos influenciar com os erros do mundo, esquecendo do mandato cultural e de expressarmos aquilo que realmente somos e assumirmos do lado de lá sem reprimir e mudar a cultura, mas interpretá-la, encarnando a mensagem escrita, como traduz muito bem (Burns, pg. 17)
“Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo as realidades socioculturais da localidade, mas sim, traduzi-lo linguística e culturalmente para um cenário distinto a fim de que toda pessoa compreenda o Cristo histórico e bíblico”
Pensando ainda no resultado final, do que vem depois da proclamação, espera-se que os ouvintes sejam salvos e nascidos de novo, como característica de um autêntico discípulo seguidor de Cristo, comprometido em uma comunidade de fé para que possa crescer no uso dos dons recebidos para ser instrumento transformador em seu contexto cultural. O grande desafio atual é o de evitar a privatização da fé que assim como os judeus, a história está se repetindo com a atitude da igreja sem que haja mudança, mas uma luta como se fosse um mercado de almas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme exposto acima, compreendemos que Deus deu a revelação, o homem reagiu a esta revelação (fé) e se reuniu criando assim uma cultura cristã.  Percebemos essa cultura como sendo um complexo diverso e ao mesmo tempo unitário que inclui todo comportamento, capacidades e hábitos adquiridos por indivíduos que tomam parte de uma sociedade formalmente definida. Podemos considerar ainda que a realidade da fé de uma comunidade não pode ser confessada fora de uma mediação cultural, porém ao exteriorizar-se a comunidade corre o risco de demonstrar uma fé empobrecida, porque ela mescla-se com a do indivíduo e o resultado é o aparecimento dos dois (Palavra interpretada e o proclamador com sua cultura). Para se enxergar claramente, é preciso conhecer os dois, tanto a revelação escriturística como o portador dela (discernimento).
Em Jesus temos a definição de fé como o exercício das possibilidades ilimitadas. Já no livro de hebreus define como sendo o firme fundamento das coisas que se esperam e a certeza de fatos que se não veem. Instituir significa congelar comportamentos e disciplinar as ações dos indivíduos. Se entendermos que a fé é ilimitada, então ela não é objeto de institucionalização. A fé não expressa a institucionalização, mas a instituição dita as práticas e as ações coletivas, que nem sempre são coerentes com a fé, ou seja, a institucionalização não está na ordem da fé. Na instituição as pessoas não precisam necessariamente de uma revelação para criar uma igreja. Igreja socialmente organizada, no contexto de uma cultura religiosa, não tem como garantir a canonicidade da revelação sem impor ao fato revelado uma perda de qualidade (Souza, p.60).  Concluindo, seja qual for a representação cultural da igreja de Jesus Cristo aqui, ela subtrai enormes quantidade de bens da natureza da revelação de Deus. Como por exemplo o surgimento da Igreja significava a superação do exclusivismo judaico no que se referia à fé em Deus. Com o surgimento da igreja, o judaísmo sofreu com o seu exclusivismo no que se refere a fé em Deus (Apostila p.74). A contextualização do evangelho de Cristo que estamos fazendo é o resultado que estamos vendo em nosso país hoje. O grande desafio consiste na fidelidade as sagradas escrituras e ser um agente proclamador de cumprir a agenda de Deus na missio dei.


BIBLIOGRAFIA

1  - APOSTILA – Contextualização do Evangelho e Cultura – Professor Marcos Orison     Nunes de Almeida – Curso Pós-Graduação Lato Sensu – modalidade EAD. 2015.

2  - BURNS, Ed Barbara Helen. Contextualização Missionária. Editora Vida Nova, 1ª Edição: 2011. P.17
3  -  HORRELL, J.Scott. Ultrapassando Barreiras: Novas opções para a Igreja Brasileira na virada do século XXI. 1ª Ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1994.

4 - BOFF, Leonardo. Espiritualidade um caminho de transformação. 1ª Edição. Editora Sextante. 2001. p.39.

5 - Missão integral, Segundo Congresso Brasileiro de Evangelização, Editora Ultimato, Edição 2004.
6 - David Hesselgrave – Apostila do curso pagina 43 e estudos suplementares 5ª aula interativa slade 4.
8 - Mandato Cultural: Resgatando a Teologia da Criação Para Uma Vivência Pública da Fé -  Rodomar Ricardo Ramlow* Apostila do curso missão integral no contexto urbano da FTSA.

terça-feira, 31 de março de 2015

CAMINHOS PARA UMA ESPIRITUALIDADE TRANSFORMADORA HOJE, NO CAMPO PESSOAL, COMUNITÁRIO E SOCIAL



Por 
Romildo Gurgel


Atualmente, o tema espiritualidade parece ser um tema bastante recorrente em nossa cultura. Ele aparece tanto no âmbito religioso, ambiente este com múltiplas apresentações e percepções bastante variadas, encontrando aí o seu ambiente natural como o campo mais amplo, como também nas mais diversas áreas onde o ser humano se encontra.  Hoje tanto jovens, como adultos, estudiosos filósofos e cientistas, empresários e executivos e aqueles que estão sobre o poder econômico incorporam em suas ações certo tipo de espiritualidade.  Há também aqueles que pensam que espiritualidade tem a sua pauta em retiros de meditação, e aqueles que suas famílias optaram para que seus filhos estudassem em colégios religiosos, ou ainda, os monges em suas enclausuras, passando por experiências isoladas. Poderemos afirmar que todo ser humano tem sede de se encontrar com sigo mesmo e com Deus para achar a respostar do porquê estamos aqui. Não há quem fique de fora dessa realidade pessoal, quer seja ela intencional, percebida ou não.  O apóstolo Paulo escrevendo a Igreja de Éfeso traduz com veracidade declarando dois tipos de pessoas no mundo: as que estão “em Cristo” e as que não estão em Cristo (cf. Efésios 2:1-2). A queda reduziu a humanidade a um estado de espiritualidade independente, onde predomina alienação ao curso do mundo, ao seu príncipe como sendo o da potestade do ar, do espírito que age naqueles que não obedecem ao evangelho de Jesus Cristo, inclinados a vontade da carne e dos pensamentos. A escritura sagrada, classifica esta classe de humanos como uma classe independente (híbrida) – caracterizada como morta nos seus delitos e pecados (v.1) e viva aos que mediante a fé está unida com Cristo, através da Sua graça salvadora (v.5).  
            Sendo assim, todos nós incorporamos quer queiramos ou não algum estado de espiritualidade, consciente ou inconscientemente.  Veja o que (Droogen, p.124) observou sobre essa possibilidade:
 A espiritualidade elabora uma atitude, um comportamento que concretiza simbolicamente com o sagrado. Estas relações com o sagrado têm consequências para as suas relações com o mundo e com os outros homens.

O homem é o reflexo da relação do estar sem ou com Cristo. O estar em Cristo, o Espírito Santo assume a posição inspirando-o para criar esse vínculo relacional e simbólico. Ao criar símbolos, o homem se mostra sujeito ativo ao invés de objeto passivo. Por isso, ele possibilita a abertura do mistério. O invisível fica invisível, misterioso, mas deixa-se conhecer e tornar-se visível.
            O apóstolo Paulo valida esta ideia ao escrever a igreja de Corinto, comunidade fraca em diversas áreas, que como comunidade de Deus seus pecados poderiam ser observados sem muito esforço. Ele ensinou a esta comunidade que ela poderia trazer a imagem do espiritual da mesma forma que estavam trazendo a imagem do terreno, ao escrever:
E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial" (1Coríntios 15:49)
“...todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito” (2Coríntios 3:18).

Conforme os textos citados acima, a imagem do celestial se torna possível através da educação contemplativa, ocorrendo de uma forma enigmática, como um reflexo de um espelho. Se observarmos nossa imagem frente a um espelho, contemplaremos a nossa aparência, o espelho refletirá a nossa imagem. A imagem é o reflexo de uma realidade visual, sem que ela mesma seja uma realidade, mas apenas uma transmissão visionária da aparência, como se uma pessoa descrevesse você através dos seus próprios olhos. Pela imagem refletida, muitos detalhes poderão ser observados da nossa aparência, é aí que surge uma conversa consigo mesmo e com o próprio coração, porém, o reflexo da amostragem dessa realidade visionária fala que algo pode ser mudado, é a partir daí que a imagem serve de condutor a possíveis transformações e mudanças. O retoque natural é como um reboco aparente de uma maquiagem exterior, que pode ser também uma camuflagem, mas não temos o recurso para as transformações de tal dimensão transformadora. O ensino no Espírito é refletir a glória da imagem de Deus como por um espelho. É um grande milagre! O espelho revela duas imagens a sua e ao mesmo tempo a imago Dei. A imagem de Deus se perdeu no homem, ela foi desfigurada com a queda na transgressão da vontade do pecado. Mas a imagem do homem, frente a imagem de Deus, o Espírito Santo faz com que percebamos essa diferença mostrando-nos a impossibilidade natural de qualquer retoque que possa ficar ao menos parecido com a Sua imagem. Os olhos humanos são abertos e aguçados, para perceberem alguma mudança feita pelo Espírito Santo, quando comparada a imagem do seu próprio ser, perceberá algo parecido, transformação essa que foi incluída no velho reflexo.  A imago Dei no ser humano continua intacta no coração de Deus. Deus se fez carne em Jesus Cristo onde 100% foi homem e Deus. Esta realidade de Deus só é revelada por e través do Espírito Santo que habita em nós, cujo reflexo transmite com precisão, a imagem de Deus, transformando-nos pela imagem contemplada de glória em glória através do espelho.
O ensino espiritual parte da observação desse reflexo obscuro, mas real. Contemplar o nosso rosto, é perceber pela imagem a nossa condição de pecadores, é contemplar a exposição da nossa natureza caída e desfigurada que foi alterada, e a partir daí, se evidencia a norma da lei, que encerra todos debaixo do pecado. O reflexo que é espiritual, poderá servir de um condutor a Cristo, que na relação entre mestre e discípulo poderá transformar o coração e aformosear o rosto.  O ensino de Cristo, é feito por esta pedagogia através do Espírito Santo.
Tiago ao escrever sua epístola explicita melhor essa ideia, associando o retoque do espelho através da prática da palavra para que haja a possibilidade de haver a manifestação da imagem do espiritual. O princípio de encarnar as palavras das escrituras sagradas, significa para nós um reflexo de Deus na nossa face, uma imago Dei, que revela o caráter de Deus e ao mesmo tempo do ser humano transformado através dessa imagem. Tiago escreveu:
"Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência". (Tiago 1:23-24)
A prática da palavra altera toda imagem velha alienadora. Não se pode pensar em espiritualidade sem pensar em transformação, conversão pessoal e serviço. A transformação da vida, a conversão do coração e o serviço ao outro. É característica de alguém que possui um genuíno relacionamento com Deus: a) Andar em novidade de vida, refletida na sua forma de viver os valores do Reino de Deus (2 Co. 5.17); b) Haver conversão genuína do seu coração, que agora coloca todas as suas emoções sob o controle do Espírito de Deus (Fl 4. 4-9); e c) Ter uma vida de serviço e altruísmo ao próximo (Jo. 13.1-17), refletindo de maneira concreta e real o caráter de Cristo.
Frente a um espelho pode acontecer de tudo. Como frisa muito bem (Droogen, p.126):
 “Quanto aos meios de expressão, cada espiritualidade faz uma seleção de um leque de possibilidades. Ela pode usar o corpo ou negá-lo, apelar a toda a personalidade ou só a uma parte. Ela usa todos os cinco sentidos ou só alguns. Ela pode ter um caráter emocional ou, ao contrário, racional. O corpo pode ser usado de muitas maneiras. A espiritualidade pode exigir uma certa atitude do corpo, certos movimentos e gestos”. 
Apoia e muito o que comenta Droogen e que é bem compatível com o que o apóstolo Paulo escreveu a igreja Romana:
(v.12) - “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais ás suas paixões;
(v.13) - Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instrumento de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus como instrumento de justiça” (Romanos 6:12-13)
Os membros do nosso corpo podem pela perseverança da tentação, forçar o corpo a ser instrumento do pecado; do mesmo modo, tais membros podem estar disponíveis a Deus para a prática da sua vontade através da Sua Palavra em justiça revelada por meio da fé.
Penso que o tema espiritualidade tem a ver com a pessoa toda e a vida toda. Excluindo uma forma de expressão individualista, pois o homem é um ser social. Acredito que nada disso acontece sem que haja um processo contínuo e radical de discipulado na fé para que isso se suceda, uma vez que é através do ensino que ocorre a transformação do coração. Somos desafiados a incorporar no nosso modus vivendi um discipulado radical, contínuo e transformador.

ESPIRITUALIDADE COMUNITÁRIA E SOCIAL

            Aprecio a clareza elucidativa de Leonardo Boff quando trata do assunto entre o reino de Deus e a comunidade da fé, a Igreja. Ele escreveu:
“O cano da água não é água e o que ilumina é a chama não a vela acesa” (BOOF, p.39).
            Com essas palavras, Boff está afirmando que Jesus não anunciou uma Igreja, ele anunciou o Reino de Deus e a transformação interior (conversão). Posteriormente, no seu lugar, surgiu a Igreja como comunidade de fieis que crêem em Jesus.   Não são poucas as comunidades que infelizmente identificam o Reino de Deus com a Igreja. Este erro tem feito com que a maioria das nossas concentrações de serviços ministeriais fiquem centralizadas no púlpito, no clero, no domingo e no templo. A igreja, ao invés de se apresentar como agência sinalizadora do caminho de salvação, se apresenta como um fim em si mesma.  O que deve contar como relevância e singularidade é a experiência que a comunidade tem com Jesus de Nazaré. Somos herdeiros de Deus não pelo fato de estarmos em uma instituição cristã e seguimos os seus dogmas e preceitos. A verdade disso é que estaremos sujeitos a esta herança se continuamente tentarmos reviver a experiência de Jesus como prática e regra de nossa fé. Desta maneira, estaremos demonstrando que somos filhos e filhas de Deus como quem contempla seu rosto reverentemente enquanto nossos pecados são perdoados.
            Se uma comunidade cristã produz essa forma eclesial, frisa Boof, ela se transforma em caminho espiritual.
(Droogen, citando Hermann Brandt, p.112), definiu como espiritualidade comunitária o exemplo de uma lâmpada em cima de uma mesa: ela ilumina a mesa, mas serve também para ver fenômenos ao redor desta mesa. Nesta mesma linha de raciocínio o apóstolo Paulo escreveu:
“...quem é espiritual discerne todas as coisas e de ninguém é discernido.” (1Co.2:15).
Este pensamento transcreve a influência iluminadora que a espiritualidade conduz, discernindo aquilo que está em volta, bem como ao mesmo tempo, refletindo a imagem da glória de Deus. Na conecção Deus/Homem, a glória de Deus passa pelo ser do homem na vivência das virtudes cristãs (MULLER, p.34)
As palavras de Jesus sobre este assunto são;
“Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha Ao contrário coloca-a no lugar apropriado, assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”. (Mateus 5:14-16).
Jesus aqui tenciona em dizer que somos os portadores dessa luz para trazer as cores de Deus ao mundo. Deus não deve ser um segredo para ser ocultado, ele deve ser mostrado publicamente através dos nossos gestos, atitudes e ações. Deus nos fez ser portadores de luz com a finalidade de que essa luz brilhe. Nós não temos luz própria. Sem Cristo somos apagados, aparece só a imagem do terreno, mas, uma vez acesos, não se pode ocultar tal luz da imagem de Deus em nossa união com Jesus Cristo de Nazaré.
Concordo com (RENDERS, p.95), quando diz que o cristianismo é essencialmente uma religião social, e tratar de torna-la uma religião solitária é, na verdade, destruí-la. De maneira nenhuma pode existir sem a sociedade, sem conviver e falar com outros seres humanos. A fé precisa ser operada em amor, existindo uma conecção da comunidade da fé com a que não tem fé. A missão é na fronteira e no contexto do reino de Deus, não é nossa, é de Deus. A oração ensinada por Jesus é chave quando mencionou essas palavras: “teu reino”, “tua vontade”, percebe-se ainda que nada é individualizado quando mencionou ainda estas: “Pai nosso”, “pão nosso”, “nossas dívidas”, “nossos devedores” (cf. Mateus 6:9-13). Sendo assim, penso que deva existir um lado interno, comum para que haja o acontecimento de um autêntico discipulado e, o lado da comunidade em sua volta que não abraçou a fé ainda. Até acontecer uma transformação como diz (Moltmann, p.87):
 “O Espírito de Deus que vivifica não somente liberta a alma de seu amor acidentado, mas também o corpo de suas contorções e intoxicações”.
Finalizando, quero colocar o seguinte: a espiritualidade não é um monopólio das religiões, nem tão pouco um caminho codificado a trilhar. A espiritualidade é uma dimensão de um encontro do homem com Deus. Essa dimensão se revela pelo diálogo consigo mesmo e com o próprio coração. Neste encontro com Deus, nos encontramos e somos aceitos e perdoados, voltamos ao nosso estado de originalidade perdida em Adão e nos encontramos em Deus através do Seu Filho Jesus Cristo “ultimo Adão”, tornando-nos sal e luz do mundo. Acredito que um dos maiores desafios da espiritualidade missional de hoje é fazer com que as comunidades tenham uma experiência real com Deus e não com o fenômeno evangélico, através de suas doutrinas, dogmas, ritos, celebrações que são apenas caminhos institucionais sinalizadores capazes de nos ajudar na espiritualidade, mas que só acontece, a experiência, depois da espiritualidade e não antes, como se é nomeado hoje. A Igreja como comunidade é o resultado de um encontro com Deus. Ela nasceu através do encontro com a verdade, cujo fundamento é a revelação do Cristo filho de Deus (cf. Mateus 16:13-18).

Romildo Fernandes Gurgel Filho

Bibliografia:
1 – BOFF, Leonardo. Espiritualidade um caminho de transformação. 1ª Edição. Editora Sextante. 2001. p.39.
2 – MUELLER, Ênio R. Espelho, Espelho Meu. Reflexões sobre os fundamentos de uma Espiritualidade Evangélica. Texto 1 unidade 1. p.34.
3 -  http://crendoepensando.blogspot.com.br/2007/06/misso-integral-e-espiritualidade.html -  Acessado em 25/03/2015 as 11:36 h.
4 – www.discipulosdecristoprromildo.blogspot.com.br - acessado em 27/03/2015.
5 – DROOGEN, André. Espiritualidade: O problema da definição. Texto 2 da unidade 1. p.112.
6 – BOFF, Leonardo. Espiritualidade um caminho de Transformação. 1ª Edição. Editora Sextante. 2001. Pr.38-39.
7 – RENDERS, Helmut. O Plano para a vida e a Missão e sua Espiritualidade correspondente. Um novo olhar numa questão essencial. Unidade 8 apostila (1). p.95.
8 – MOLTMANN, Jürgen. A Fonte da Vida, O Espírito e a Teologia da Vida. Editora Loyola – p.87.