quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

PARÁBOLA DOS TRABALHADORES DA VINHA


Por
Romildo Gurgel

LEITURA BÍBLICA: (Mt. 20:1-16)

INTRODUÇÃO:
Esta parábola foi ensinada por Jesus aos seus discípulos. Isto vemos claramente nos versículos anteriores a parábola, quando Jesus ensina a seus discípulos algumas verdades acerca da entrada no reino (Mt.19:16-30). A parábola foi ensinada pelo fato de Pedro perguntar a Jesus o que ganharia por ter renunciado tudo para seguí-lo (Mt.19:27-30)

I – NARRAÇÃO HISTÓRICA

O proprietário de uma vinha resolveu colher suas uvas, em um determinado dia. Todos os seus servos, que trabalhavam para ele, regularmente durante o ano, saíram para a vinha às seis horas da manhã, enquanto o dono foi até à praça da cidade próxima, ao romper da aurora. Ele precisava encontrar alguns trabalhadores desempregados que estivessem dispostos a trabalhar por dia, pela soma razoável de um denário. Bem cedo, entre cinco e seis horas da manhã, alguns homens dispostos a trabalhar já permaneciam pela praça à espera de algum empregador que viesse oferecer-lhe trabalho. O proprietário da vinha falou com os homens, mencionou o pagamento diário de um denário, com o qual todos concordaram e foram levados para uma jornada de trabalho de 10 horas de trabalho.
Nos dias de Jesus, os trabalhadores se consideravam privilegiados ao conseguir um salário. Passar horas ociosas na praça, significava para o trabalhador que ele e sua família teriam que contar com a caridade dos empregadores. Com isso, um dia de trabalho era uma bênção para o trabalhador e sua família.
Enquanto os servos e os novos contratados estão ocupados trabalhando na vinha, o proprietário volta à praça para ver se consegue encontrar mais alguns trabalhadores. São entre oito e nove horas, e muitos estão ainda à toa, na praça. O empregador pergunta-lhes se trabalhariam o resto do dia em sua vinha. Ele não diz quanto vai pagar, mas promete um salário justo. Os trabalhadores conhecendo a reputação do dono da vinha, confiam nele plenamente e sabem que não ficarão desapontados ao fim do dia.
A medida que o trabalho progride, o proprietário calcula o número de horas de trabalho necessário ainda para terminar a tarefa antes que a noite caia. Fica evidente que o proprietário queria fazer a colheita toda naquele único dia. O dono da vinha sabe exatamente quando certas uvas devem ser colhidas. Se forem deixadas na videira por mais um ou dois dias acumularão açúcar demais perdendo assim o valor de mercado, pois a grande maioria das uvas eram para fabricação de vinho. Se o dia da colheita cai na sexta-feira, o fazendeiro faz tudo o que pode para conseguir trabalhadores adicionais e completar a tarefa antes do sábado.
Idas à praça próxima se repetem a intervalos regulares, ao meio dia e as três da tarde, com sucesso variado. Ao entardecer, parece que o projeto ainda não estará completo com os empregados já contratados até o cair da noite, ao menos que mais trabalhadores sejam contratados. O proprietário volta a praça as cinco horas e encontra alguns homens por ali. Pergunta por que estão na praça, àquela hora do dia. Eles respondem que ninguém veio contratá-los. O empregador diz: “Ide também vós para a vinha”. Não faz nenhuma menção ao pagamento.

II – OBSERVANDO PONTOS IMPORTANTES DA PARÁBOLA

a) Na parábola toda o empregador é a figura dominante – Suas atitudes, seus procedimentos são manifestos do inicio até o fim da parábola.

b) Várias questões surgem a respeito da administração da vinha. Porque o proprietário volta a praça por pelo menos cinco vezes.

 Madrugada (entre 4 e 5 h. da manhã) – Saiu para assalariar , valor de um denário por dia– vss.1
 Terceira hora (9 h. da manhã) – Valor contratado “vos darei o que é justo” – vss. 3 e 4
 Hora sexta e hora nona ( meio dia e três horas da tarde) – Valor contratado “foi da mesma forma da hora terceira” – “vos darei o que é justo” – vss. 5
 Hora undécima ( 5 h. da tarde) – O valor do contrato aqui não foi estipulado, mais o empregado parece saber que pelo menos no final, mesmo por ter trabalhado somente por uma hora, receberia o proporcional e poderia levar alguma coisa para casa. O empregado confia na reputação do empregador e aceita o serviço e confia na generosidade do dono da vinha.

c) O empregador observava a norma bíblica de não reter o pagamento do trabalhador diarista –
(Lv.19: 13) - Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã.

(Dt.24: 14 ) - Não oprimirás o trabalhador pobre e necessitado, seja ele de teus irmãos, ou seja dos estrangeiros que estão na tua terra e dentro das tuas portas.
15 No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, e isso antes que o sol se ponha; porquanto é pobre e está contando com isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado.

d) A lei da procura e da oferta é sem dúvida observada – Menos trabalhador, aumenta a jornadas de dias de trabalho, mais energia será gasta por cada trabalhador, o rendimento depois de certo tempo de trabalho diminui consideravelmente por ser um trabalho braçal. Contratando-se trabalhadores mais tarde, chegam a vinha mais descansados e com energia para gastar, a colheita mantém um rítimo até o fim, a produção da colheita aumenta e diminui a jornada de trabalho.

e) O empregador ciente dessas injunções, circunstâncias, dá instruções a seu capataz (chefe de um grupo de trabalhadores braçais) para que pague aos trabalhadores o seu salário.

A recomendação foi :

 “Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos até os primeiros”. Vs. 8

III – O PAGAMENTO DOS TRABALHADORES

 Os da hora undécima ( 5 h. da tarde) – Receberam um denário por uma hora de trabalho – vs.9 – ficaram felizes, contentes e cheios de gratidão por causa da generosidade do dono da vinha.

 Os das 3 h. da tarde, meio dia e das nove da manhã – receberam um denário cada grupo – vs.10 - Se contentaram com o que receberam. A bíblia não diz que eles fizeram alguma objeção com o capataz e o dono da vinha, tudo indica que ficaram satisfeito pela bondade do dono da vinha.

 Os contratados a madrugada –Pensavam que receberiam mais do que os últimos contratados. Portanto receberam um denário cada um. A sua indignação manifestou-se imediatamente.

IV - A MURMURAÇÃO DOS TRABALHADORES DE MADRUGADA

(Mt. 20:10) - Vindo, então, os primeiros, pensaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um denário cada um.
11 E ao recebê-lo, murmuravam contra o proprietário, dizendo:
12 Estes últimos trabalharam somente uma hora, e os igualastes a nós, que suportamos a fadiga do dia inteiro e o forte calor.

V - O EMPREGADOR NÃO SE DEMONSTRA OFENDIDO CHAMA-OS DE AMIGO COM UM TOM AMIGÁVEL

(Mt.20: 13) - Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não ajustaste comigo um denário?
14 Toma o que é teu, e vai-te; eu quero dar a este último tanto como a ti.
15 Não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?
16 Assim os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.

QUE VEMOS NO TEXTO ?

a) A conotação é de reprovação, mas com tom amigável – VS.13

b) O fazendeiro se mostra Senhor da situação – Vs.14-15

c) O trabalhador insatisfeito pode concorrer à justiça, mas não teria êxito, pois as evidências do contrato eram claros: “ tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia”- vss.2

d) O empregador não discute, não se explica e nem se justifica. Simplesmente faz a pergunta que o outro tem que responder afirmativamente: “Não combinaste comigo um denário ?” “Não me é lícito fazer o que quero do que é meu ?”.

e) Se há alguém que sacrificou a parte econômica pela benevolência, este é o proprietário da vinha. Teria sido melhor para ele se tivesse pago a quantia exata merecida.

f) O dono da vinha é acusado pela sua generosidade. “Ou são mau os teus olhos porque eu sou bom?” Com esta pergunta, o administrador põe à mostra a falsidade dos empregados da madrugada desapontados e demonstra sua bondade e gentileza enquanto eles mostraram inveja a avareza. Eles permanecem cegos à bondade do proprietário até que a máscara que escondia seu descontentamento é removida pela questão: “ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?”.

g) Aqui temos o conceito do mundo e o conceito do reino: No mundo, o conceito é o do que trabalha mais, recebe mais. Isso é justo. Mas no reino de Deus, os princípios do mérito e da capacidade são postos de lado para que a GRAÇA PREVALEÇA.

VI – AS LIÇÕES DA PARÁBOLA

a) A graça vale mais do que a justiça imparcial e as práticas lucrativas de negócio.

b) Ao ensinar a parábola, Jesus mostrou que Deus não trata os homens de acordo com o princípio do mérito, da justiça ou da economia. Deus não está interessado em lucros. Deus não trata o homem na base do “toma lá dá cá”, ou “uma boa ação merece recompensa”. Na graça de Deus não circulam porcentagens, porque “todos temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça”. (Jo.1:16).

c) A parábola ensina que no reino dos céus a igualdade é a regra. “muitos primeiros serão os últimos” (Mt.19:30) . “Os últimos serão primeiros”( Mt.20:16). Mesmo que o trabalho possa variar, a graça é suficientemente para todos.

 Todos fomos comprados por preço de sangue
 Todos foram batizados em um só corpo, e este corpo não é dividido
 Todos somos possuidores de um só Senhor
 Todos temos uma só fé
 Todos temos a mesma vestimenta de santidade

d) Os trabalhadores queixosos podem ser comparados com o irmão mais velho da parábola do Filho pródigo (Lc.15:11-32). Juntos contavam com o comportamento de alguns fariseus que, por causa de seu zelo na observação da lei de Deus, contavam ter um lugar privilegiado no reino de Deus.
e) Esta parábola nunca será aceita por aqueles que querem impor à salvação regras e estipulações feitas pelos homens. No reino dos céus não existe a burocracia humana. A graça de Deus é plena e livre e superior de que qualquer cálculo.

VII – A APLICAÇÃO DA PARÁBOLA

a) A parábola é a explicação de (Mt.19:30)

b) O homem dono de casa, denota a Cristo que é o dono da Igreja

c) Os trabalhadores denotam os discípulos que foram chamados para o serviço na vinha

d) A contratação de trabalhadores em diversos horários do dia, diz respeito ao chamado de diversos discípulos no decorrer da história da Igreja até ao arrebatamento para o prêmio (paga) pelos serviços prestados.

e) O contrato firmado para os empregados foi feito por sangue, e a paga seria certa, veja a especulação de Pedro em (Mt.19:27).

f) A vinha denota o reino

g) O denário diz respeito ao galardão que o Senhor ofereceu a Pedro no seu acordo em (Mt.19:27-30)

h) No vs.3 de Mt.20, mostra pessoas ociosas na praça, isto fala que os que não trabalham no reino de Deus, ficam ociosos no mundo. É um reflexo, uma repercussão. Primeiro se busca o reino e as outras demais coisas serão acrescentadas. O não trabalho no reino deixa as pessoas ociosas no mundo.

i) A praça, representa o mundo.

j) Os diferentes horários que os trabalhadores foram contratados, representa os discípulos que foram salvos no decorrer da história da Igreja

k) Fora do reino de Deus, nenhum ser humano é empregado por Deus. Se não foi contratado, não esta no reino. O contrato tem que ser firmado. Pacto de sangue.

l) Mesmo próximo do final, onde o Senhor virá buscar a Igreja, até mesmo na ultima hora, muitas pessoas estão sendo contratadas e igualmente como os primeiros receberão os seus galardões como os primeiros. Os últimos serão os primeiros

BIBLIOGRAFIA
1 – KISTEMAKER, Simon J. As parábolas de Jesus. Casa Editora Presbiteriana, 1a Edição; São Paulo – SP
2 - Os Evangelhos – Versão Restauração. Editora Arvore da Vida.
3 – Bíblia Vida Nova – Editora Vida
4 – Bíblia de Estudo Plenitude – Sociedade Bíblica do Brasil
5 – LOCKYER. Herbert. Todas as Parábolas da Bíblia. Editora Vida, 3a impressão; São Paulo/SP

Elaborado por
Romildo Gurgel