terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

PARÁBOLA DO CREDOR DESAPIEDADO

Por
Romildo Gurgel

LEITURA BÍBLICA: (Mt.18:23-35)

PANO DE FUNDO HISTÓRICO

Um rei reuniu seus oficiais (servos que trabalhavam na administração do seu reinado), no dia marcado para o acerto de contas. Um deles lhe devia a astronômica soma de dez mil talentos, o mais alto valor monetário do sistema financeiro da época. Esta certo que o servo (ministro das finanças) devia ao rei uma quantia enorme. Visto que uma grande fração de dinheiro havia saído por intermédio daquele servo, o rei, reúne todos os seus oficiais da administração para um acerto de contas. Na parábola não nos é contado o que este oficial havia feito com o dinheiro. O rei sabia que o oficial não teria todo aquele dinheiro, no dia marcado para o ajuste de contas. Quando ficou diante de seu Senhor, ouviu o veredicto (decisão tomada pelo júri): ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que possuía seriam vendidos para o pagamento da dívida. Era demais para ele. Todavia, o servo atirou-se aos pés do soberano, implorando misericórdia, e pediu: “Sê paciente comigo e tudo te pagarei”, ele implorou misericórdia e não perdão. Prometeu restituição, sabendo que poderia pagar apenas uma pequena parte e não mais. Como resposta, recebeu o que menos esperava – quitação da dívida. Seu senhor teve piedade dele, cancelou o seu débito e deixou-o ir. Quase não acreditando, o servo sai com alegria e falando a todos da bondade do seu senhor. Passado alguns dias, descendo as escadarias do palácio, o servidor público absolvido encontrou um outro servidor que lhe devia cem denário. Realmente era muito pouco – alguns dias de trabalho e a soma seria conseguida. E ele ao se encontrar com aquele amigo, vê uma oportunidade de lhe fazer a cobrança do que estava lhe devendo, e segura-lhe pelo pescoço, sufoca-o , exigindo o pagamento da dívida. O devedor atirou-se aos pés do ministro das finanças e pediu: “Sê paciente comigo e te pagarei. Ele não precisava dizer que pagaria tudo, porque o total era pequeno. Mas o ministro das finanças recusou, lançou o homem na prisão, esperando que alguém o pusesse em liberdade sob fiança (abonar e dá garantia a responsabilidades alheia), e pagasse a dívida. Nada aqui foi feito as escondidas, o ministro das finanças fez tudo isso nas escadarias do palácio a vista de todos os que estavam por alí, e nada poderia guardar silêncio sobre aqueles que assistiram tal cena. O acontecido virou a conversa do dia em todo o palácio, até que o rei ouviu toda a história. O rei ao ouvir, ficou zangado. Chamou o servo e o repreendeu: “Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida porque me suplicaste, não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como me compadeci de ti ?” Com isso, entregou-o aos carcereiros para que o torturassem até que a dívida fosse paga.

I – INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA
1 - A parábola ilustra o princípio do perdão, elemento vital no processo de disciplina eclesiástica. - A parábola foi confeccionada por Jesus por


causa das perguntas de Pedro – (Mt.18:15-22) A misericórdia de Deus é tão grande que não pode ser medida

2 – Deus faz contas com os seus servos, não somente depois da morte, mas aqui e agora – (vd.vss.23)
(Lc.12: 42) - Respondeu o Senhor: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, que o Senhor porá sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?
43 Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
44 Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens.

• O ajuste de contas aqui se refere ao juízo do tribunal de Cristo –
(2Co.5: 10) - Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal.

3 – O fato de não perdoarmos o irmão que peca contra nós entristecerá os outros irmãos, que poderão levar essa questão ao Senhor -


4 - Aquele que muito recebeu para dá (perdão), será cobrado pelo que não deu (perdão) -
(Lc.12: 47) - O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;
48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.

(Lc.16: 11) - Se, pois, nas riquezas injustas não fostes [fiéis], quem vos confiará as verdadeiras?
12 E se no alheio não fostes [fiéis], quem vos dará o que é vosso?

5 – Se não perdoarmos os irmãos que peca contra nós, seremos disciplinados pelo Senhor até que o perdoemos de coração, isto é, até que paguemos toda a dívida –
(Mt.5: 21) - Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo.
22 Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno.
23 Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24 deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta.
25 Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão.
26 Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.

6 - Embora a palavra justiça não esteja na parábola, os conceitos expressos são de misericórdia e justiça. – Ex: Davi tinha desobedecido a Deus, levantando o censo de Israel e Judá, ao fazer cumprir a justiça, Deus deu a ele três escolhas:
• Sete anos de fome,
• três meses de perseguição,
• ou três dias de peste

 Davi respondeu: “Caiamos nas mãos do Senhor, porque muitas são as suas misericórdias...” (2Sm. 24:10-17; 1 Cr. 21:13)

 As escrituras não ensinam que a misericórdia anula a justiça; nem ensinam que a justiça elimina a misericórdia

7 - O povo judeu sabia que na aplicação da justiça a misericórdia teria que triunfar -
(Êx.22: 25) - Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor; não lhe imporás juros.
26 Ainda que chegues a tomar em penhor o vestido do teu próximo, lho restituirás antes do pôr do sol;
27 porque é a única cobertura que tem; é o vestido da sua pele; em que se deitaria ele? Quando pois clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso.

8 – A justiça se manifestava de diversas maneiras - O ano do jubileu eram impostas; durante aquele ano, os que haviam alienado suas propriedades entravam de novo na posse delas e os escravos adquiririam sua liberdade. Resumindo, o judeu dos dias de Jesus sabia que misericórdia e justiça não podem ser tratadas separadamente. Estão interligadas.

9 – A diferença entre o servidor chefe ministro das finanças e o seu conservo -

a. O servidor chefe de finanças –

i. Devia 10.000 talentos – mais ou menos 3 milhões de dólares
ii. Não tinha com que pagar
iii. Foi sentenciado, para que fosse vendido , ele, esposa e filhos e todos o seus bens e que a dívida fosse paga
iv. Tal forma de cobrança coincidia com os costumes antigos – (2Rs. 4:1) – filhos serviam para resgatar dívidas
v. Humilha-se reverentemente e pede paciência que pagaria tudo –
vi. O rei observando que ele não tinha a mínima condição de pagar, perdoa-lhe a dívida.

 Aqui a justiça é utilizada seguida de misericórdia

b. O conservo servidor público

i. O conservo devia 100 denários ao chefe de finanças – aproximadamente doze dólares = 24 REAIS
ii. Foi agarrado pelo pescoço e humilhado na frete dos funcionários do palácio
iii. O conservo pede paciência que iria lhe pagar
iv. O chefe de finanças não quis esperar
v. O chefe de finanças lança-o na prisão até que saldasse a dívida
vi. Os companheiros de trabalho avisam o acontecido ao rei

 Aqui a justiça é aplicada sem misericórdia

10 – O veredicto (sentença) do rei

(Mt.18:32) - “servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste;
(v.33) não deverias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como eu me compadeci de ti ?
(v.34) e, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida.

11 – Aplicação da parábola feita por Jesus

(Mt.18:35) - Assim também meu pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”

12 – Ensinos notáveis sobre o perdão

a) Deus só perdoa as nossas ofensas se nós perdoarmos – Embora Deus seja o exemplo da prática do perdão.
(Mt.6: 14) - Porque, se [perdoar]des aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos [perdoar]á a vós;
15 se, porém, não [perdoar]des aos homens, tampouco vosso Pai [perdoar]á vossas ofensas.

(Mc.11: 26) - [Mas, se vós não [perdoar]des, também vosso Pai, que está no céu, não vos [perdoar]á as vossas ofensas.]

b) Devemos perdoar muitas vezes –
(Mt.18: 21) - Então Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de [perdoar]? Até sete?
22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes setembro

c) Devemos perdoar de coração e não por boca –
(Mt.18: 35) - Assim vos fará meu Pai celestial, se de coração não [perdoar]des, cada um a seu irmão.

d) Devemos perdoar a quem pede perdão até muitas vezes no dia –
(Lc.17: 4) - Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; tu lhe [perdoar]ás.

e) O perdão deixa a pessoa livre, reter, aprisiona, conserva o problema instalado –
(Jo.20: 23) - Àqueles a quem [perdoar]des os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos.

f) Devemos perdoar uns aos outros –
(Ef.4:32) - Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.



13 – Outros ensino sobre a parábola

a) Que é possível receber a graça de Deus em vão, sem que ela produza em nós um correspondente trato com os nossos semelhantes –
»II CORINTIOS [6]
1 E nós, cooperando com ele, também vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em vão;

b) Que é muito fácil fazer questão das pequenas ofensas dos outros contra nós mesmos, do que as grandes ofensas que cometemos contra Deus

c) Que é característico da natureza carnal ser exigente, intolerante e incompassivo

d) Devemos não fazer com os outros aquilo que gostaríamos que os outros não fizessem conosco -
(Mt.7: 12) - Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos [faça]m, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.

(Lc.6: 31) - Assim como quereis que os homens vos [faça]m, do mesmo modo lhes fazei vós também.

(Jo.13: 15) - Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, [faça]is vós também.


BIBLIOGRAFIA

KISTEMAKER, Simon J. As Parábolas de Jesus. Casa Editora Presbiteriana,1a Edição. São Paulo – SP

LOCKYER, Herbert. Todas as Parábolas de Jesus. Editora Vida, 3a impressão, 2001. São Paulo - SP

Bíblia Vida Nova – Sociedade Bíblica do Brasil – Editor Responsavel Russell P. Shedd. Impressão 1997. São Paulo – SP

Os Evangelhos – Versão Restauração – Editora Arvore da Vida. Primeira Edição 1999. São Paulo –SP

Bíblia de Estudo Plenitude – Sociedade Bíblica do Brasil

A Bíblia Explicada – CPAD. 13a Edição, 1994 – Rio de Janeiro – RJ.

Elaboração:
Pr.Romildo Gurgel